7 de outubro de 2023. Explode. Bombas. Mulheres. Crianças. Televisão. Apoio incondicional. Sangue. Palestina. Mortes.
O maior genocídio já televisionado na história é anunciado. Israel progrediu com uma retaliação apoiada por 2 grandes nações: Estados Unidos da América e Reino Unido. Iniciou-se a devastação de um território que já convivia com o cerco. Gaza tornou-se notícia nos maiores holofotes de manchetes, mas também foi silenciada. O silêncio não é das mães gritando pelos filhos mortos; não é das crianças procurando seus pais. Não é dos pais que não conseguem trazer comida para casa. O silêncio é das nações que viraram as costas para as atrocidades acometidas por Israel.
Nomes de não-nomes. Rostos cobertos por poeiras dos escombros. Vidas que são apenas números. Escolas bombardeadas. Hospitais colapsados. Médicos aterrorizados. O que está sendo visto não é apenas uma guerra militar, mas sim um sistema conduzido com o objetivo de apagar culturalmente uma população. Na atual conjuntura de Gaza a sobrevivência não é medida apenas por aqueles que não morrem, mas sim pela resistência ao colapso do sistema que deveria proteger a população, ao cerco do territorial mantido por Israel e principalmente, pelo isolamento internacional.
De acordo com o Jornal Aljazeera, desde outubro de 2023: 67.139 palestinos foram mortos desde o início da guerra. 459 morreram de fome, incluindo neste número 154 são crianças. Esta estatística é apenas aquela que o ministério da saúde de Gaza contabilizou. Além dos mortos, os diasporados são mais de 2 milhões que acabam criando abrigos improvisados onde não há suprimento de água, saneamentos, abrigo decente, cuidados médicos, ou seja, não há humanidade.
As imagens vinculadas nas mídias são brutais: escolas que são reduzidas a escombros, famílias soterradas, hospitais destruídos. Vídeos veiculados com mães correndo com seus filhos nos braços, pais que carregam pacotes embrulhados em lençóis, crianças que não são mais crianças por terem suas infâncias roubadas. Quem vive? Quem sobrevive? Quem morre? São alguns dos questionamentos que nos fazemos enquanto escombros são atravessados por nossa consciência.
A cada ataque realizado por Israel, que é justificado por homens que não respeitam a vida, morrem os mais vulneráveis: mulheres, idosos e crianças. Estes, são aqueles que nunca pegaram em arma, mas, são os que carregam em si a memória de um povo. Aqueles que conseguem sobreviver não se tornam mais forte apenas, mas sim, aqueles que resistem em meio aos escombros, é uma forma de mostrar para o mundo, mesmo para aqueles que querem ao contrário, estamos aqui, ficaremos aqui e resistiremos aqui.
O conflito na Faixa de Gaza demonstra que há uma hierarquia global de vidas. Algumas mortes ganham maior comoção mundial, outras, como daqueles que são soterrados entre os escombros permanecem na invisibilidade, que acabam sendo simplesmente vistas como danos colaterais do conflito. De acordo com a filósofa Judith Butler muitas mortes não são reconhecidas como dignas de compaixão internacional, e este pedaço de mosaico humanitário é exemplificado em Gaza, de forma tão dolorosa que desvaloriza a existência.
Em meio a este mosaico de vidas, há lampejos de uma resistência. Professores que improvisam salas de aulas em tendas. Crianças que fazem dos escombros um espaço de brincadeiras. Poetas que utilizam papéis queimados para escrever palavras que um dia possam ser lidas por aqueles que sobreviveram. As famílias que se reúnem para uma alimentação achada em escombros, orações que ecoam os prédios a beira de cair. Tudo isso torna uma forma de resistência dos palestinos.
Essas ações praticadas por aqueles que ainda estão ali, é uma narrativa contra a aniquilação, onde lutam para reafirmar a identidade palestina que não pode simplesmente ser reduzida ao silêncio ou à morte. Para o orientalista Edward Said, a forma de preservação da memória praticada pelos palestinos é resultado da perseverança contra a violenta prática do exílio e da ocupação praticada por Israel e daqueles que aprovam e protegem a prática da limpeza étnica que acontece a céu aberto em Gaza.
Gaza resiste, por um fio. Gaza grita para aqueles que não a mais ouvem. Gaza está completamente destruída.
Os palestinos nunca irão perdoar aqueles que podiam ajudar, mas preferiram manter uma aliança política que fez com que Gaza se tornasse o maior palco genocida do século XXI, pois, cada morte, cada diasporados, cada forma de resistência, resulta em um tecido coletivo humanitário que transpassa o campo de refugiados em sua própria terra. A ética social esbarra no momento em que, eu decido que vive, quem morre e quem sobrevive.
Bruno Younes
Integrante
Departamento de Medio Oriente
IRI-UNLP